Estudos revelam que cerca de 90% de nossa energia psíquica é investida naqueles espaços intangíveis que insistimos em visitar: “passado” e “futuro”. O interessante é que, na linearidade do Cronos, ambas as grandezas são inapropriáveis. Ambos os espaços de tempo “não são”; apenas o agora “é-já-não-sendo”.
Nos últimos dias, estranhamente, tenho encontrado diversas pessoas que fizeram morada no ontem (e de lá não querem sair), na tentativa de mudar o amanhã (que não chega da forma imaginada).
Pessoas que machucaram ou foram machucadas; pessoas que traíram ou foram traídas; pessoas que decepcionaram ou se decepcionaram; pessoas que se sentem, de algum modo, na obrigação de consertar, corrigir, adaptar… E, não raramente, quanto mais tentativas de restauração, mais dores, mais rancores, mas prisões.
Passado… Que ente poderoso é este?
O passado, dentro da realidade humana, é um verdugo que faz “sangrar” a nossa psiquê, aprisionando-nos a mágoas, culpas, vergonhas, dores e medos, ao mesmo tempo em que alimenta (em nós) uma cadeia contínua de traumas e autopunições.
Quantos já não se renderam ao chicote desse algoz empoeirado? Por que algumas pessoas se sujeitam tão docemente a um carrasco tão conhecido? Talvez porque gostariam de não errar nunca, de fazer o que é correto sempre, de ter êxito em tudo… Assim, curvadas diante de um imperativo de inerrância absoluta, procuram uma forma de “melhorar” aquilo que já foi…
Mas, alguém pode, de fato, melhorar o passado?
O Efeito Borboleta é uma expressão ligada à Teoria do Caos, que resume a seguinte ideia: uma mínima mudança no início de um evento pode desencadear consequências absurdas e desconhecidas no futuro — o bater de asas de uma borboleta no Brasil, por exemplo, dentro dessa teoria, poderia desencadear fenômenos meteorológicos de grande magnitude no Texas.
Quem já assistiu ao filme de mesmo nome (Efeito Borboleta) consegue entender quão pior pode ser o futuro de uma pessoa, se alterado em sua concepção.
Caso o passado pudesse ser modificado de algum modo, pequenas mudanças em um aspecto ou outro não necessariamente desenlaçariam consequências tão significativas no futuro. Entretanto, a mensagem desse texto longo é uma só: às vezes — como Ashton Kutcher, no final do filme —, precisamos simplesmente deixar o passado passar, porque algumas “químicas existenciais” não têm outro poder, senão o de desencadear o caos (em nós e naqueles que nos cercam) — independente dos padrões em que tentemos nos encaixar; independente dos movimentos que façamos para “melhorar” determinada resposta.
Voltando ao início do post, creio que para vivermos a potencialidade do hoje, precisamos aceitar o fato de que o presente é o único instante tangível para a realização dos nossos sonhos e aspirações. Portanto, ao invés de nos determos naquilo que passou, devemos focar o cultivo de relações saudáveis e construtivas. Isso significa estabelecer limites saudáveis e buscar crescimento pessoal, valorizando aqueles que nos apoiam em nosso caminho.
Essa consciência pode ser libertadora…
Para lidar com traumas do passado, muitas vezes é necessária uma abordagem terapêutica individualizada. Busque apoio para tratar a sua dor.
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