Medo de altura, do escuro, de lugares fechados, de serpentes, de aranhas, de palhaços, de falar em público, de ficar sozinho… Quantos medos já não foram catalogados pelas ciências da psiquê?
Até certo ponto, esta emoção fundamental desempenha um papel positivo ao nos manter alertas diante de ameaças potenciais. Por exemplo, a ausência completa de medo, como na rara síndrome de Urbach-Wiethe, pode levar a comportamentos extremamente perigosos.
A humanidade nos legou o dom da transcendência, exigindo, assim, que ultrapassemos os significados superficiais. Nossas indagações não se esgotam em respostas imediatas e tangíveis. Então, pensemos juntos: existiria algum medo primal, capaz de deflagrar em nós todos os outros temores?
Todas as fobias destacadas acima, ao serem examinadas em suas entranhas, revelam não apenas um medo de riscos específicos, mas também o temor mais abrangente de que todas as estradas eventualmente levarão ao fim inexorável. Em outras palavras: aparentemente, todas as fobias humanas alicerçam-se no fato de que todos, indistintamente, um dia, morreremos. Praticamente tudo o que fazemos nesta vida advém da consciência que temos da realidade do fim.
Parece haver em nós um grito desesperado de perda, que nos faz existir sob a chibata do “eu tenho que”. Muitas vezes essa agonia se manifesta nos perigos aos quais adolescentes e jovens submetem-se, na tentativa de se autoafirmarem como os únicos seres capazes de vencer a extinção. Na idade adulta, essa aflição aparece travestida de responsabilidades neuróticas: é preciso casar-se, ter filhos, ganhar dinheiro, adquirir confortos, construir reputação etc.
Mas, o que fazer com esse entendimento? Uma saída óbvia, mas muito longe de ser simples, seria: encarar “a indesejada das gentes” de frente. Não há outro modo. Se quisermos viver pacificados e não morrer em guerra com nosso eu, precisamos resolver dentro de nós mesmos essa fobia primordial e latente.
Renato Russo, inspirado em inscritos budistas, disse: “tudo é dor, e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor”. Significando dizer que a tentativa de evitar o sofrimento nos leva, muitas vezes, a enfrentar ainda mais dor.
O roqueiro legionário me fez pensar...
Talvez, uma boa paráfrase para essa bela frase seja: Tudo é medo, e todo medo vem do desejo de não fenecermos no ocaso. Não falar sobre a morte não fará com que ela se afaste de mim. Quanto maior for minha consciência de finitude, mais qualidade minha vida terá e mais sentido meus dias terão.
Confrontar a morte diretamente, aceitando-a como parte integrante da vida, pode, paradoxalmente, aliviar muitos dos temores que nos assombram, permitindo uma existência mais plena.
Portanto, reconhecer e enfrentar nossas angústias mais profundas não só é vital para o nosso bem-estar psíquico, mas também essencial para viver com verdadeiro significado e propósito.
Continue seguindo nossas publicações. No próximo conteúdo, exploraremos como o reconhecimento consciente da nossa mortalidade pode enriquecer nossa experiência de vida, transcendendo ao mero alívio dos medos cotidianos.
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